Em entrevista bombástica ao site Surfline, Andy Irons ressurge das trevas para explicar o delicado momento que vive e diz que vai ficar um tempo afastado do WCT.
Desde que foi derrotado na primeira fase da etapa do WCT na França, e não apareceu para sua bateria na repescagem, contra o brasileiro Jihad Khodr, Andy Irons teve seu nome envolvido em uma série de teorias em blogs e sites que procuravam alguma explicação para sua decadência nos últimos dois anos no Circuito Mundial. Chegaram a dizer que o havaiano tricampeão do mundo estaria mergulhado nas drogas e passando por sérios problemas pessoais.
Depois de oito meses sem falar com a imprensa, Irons finalmente abriu o jogo, afirmou que realmente está abalado psicologicamente e que deve ficar um tempo afastado do WCT: "Eu não colocarei uma camisa de competição enquanto não estiver 100% focado nisso. E se eu não for visto no Circuito, é porque encontrei a felicidade fora das competições. E essa terá sido a maior conquista da minha vida", disse o surfista do Kauai.
Na entrevista concedida ao jornalista Lewis Samuels para o site Surfline, Andy admitiu que está passando por uma séria crise e negou os boatos sobre abuso de drogas e coisas do tipo. O próprio Samuels declarou ter ficado surpreso com o nível de argumentação de Irons: "Encontrei um atleta articulado, que está buscando respostas para sair do atoleiro em que se encontra. Fico assustado ao pensar que muitos fãs não têm idéia de quem é realmente Andy Irons", escreveu o autor da entrevista.
Irons nunca se preocupou em fazer o papel de "bom moço" perante a mídia e os fãs. Na verdade, ele preferia deixar seu surf explosivo e criativo falar por ele, o que funcionou enquanto as vitórias eram uma constante em sua carreira. O auge de Irons ocorreu entre 2002 e 2004, quando conquistou o tricampeonato mundial desbancando o mito do esporte Kelly Slater. Mas AI, hoje com 30 anos, sempre foi acusado de ser excessivamente competitivo e frio, e agora que os resultados se tornaram escassos a conta chegou com juros.
Ele explicou que a decisão de não aparecer para a bateria contra Jihad na França foi tomada logo depois da bateria do dia anterior: "Eu estava totalmente ausente, sem foco. Sabia que se tentasse mascarar aquilo por mais tempo entraria numa espiral maluca ao fundo do poço. É difícil explicar, mas acho que tudo começou em J-Bay. Desde então, toda vez que coloco a lycra de competição, parece que estou batendo a cabeça num muro. O que as pessoas não entendem é que estou tão confuso quanto elas".
Assim como vários Tops, Andy afirmou que não virá para a etapa brasileira do WCT, de 28 de outubro a 5 de novembro. No momento ele está na Califórnia, tentando colocar a cabeça no lugar. E disse ter todo apoio da Billabong. "Decidi dar um tempo do surf, estou curtindo uma vida normal com a minha esposa. Tive uma reunião com a Billabong e eles foram muito legais, entenderam a situação e me deram todo o suporte". Mas AI não engoliu as coisas que foram escritas a seu respeito. "É incrível como as pessoas são más e pensam que têm todas as respostas. Muitos disseram como eu sou indisciplinado, antipático ou algum tipo de drogado sem noção. Isso me deixou puto! Falar da minha vida, da minha esposa? O que é isso?", indignou-se.
"Sou um atleta profissional, o que significa que parte do esquema é as pessoas acompanharem minhas atitudes dentro e fora da água. Mas não sou nenhum anjo que vai sair por aí tentando ser seu melhor amigo. Ninguém me julgou quando eu estava por cima. Agora que tive um ano ruim, todos estão pedindo pra eu mudar de atitude, mas eu digo o seguinte: estou no tour há 12 anos, ganhei três títulos mundiais e alguns vices. Quem está no tour quer ganhar, qualquer um que disser que não liga pra isso está mentindo. E se eu não estiver vencendo tudo, prefiro nem estar lá", enfatizou Irons.
Ele garantiu que vá disputar o Pipeline Masters este ano, um de seus eventos favoritos. E também não garantiu que estará no WCT no ano que vem. AI também admitiu que a saída de seu irmão Bruce do WCT pode ter afetado suas perspectivas. "Eu costumava responder que a saída de Bruce não me afetou, mas pensando a respeito descobri que afetou sim. Seria muito difícil pensar que estou preso em um lugar como Bell's enquanto Bruce está surfando altos tubos em algum lugar paradisíaco".
Irons revela também que perdeu a paixão por surfar e viajar com os amigos, algo que ele sempre gostou de fazer. "Não sei o que houve, mas é estranho. Eu adorava estar com a galera, pegar onda sem compromisso. Mas já não é a mesma coisa agora". Intenso em tudo que faz, ele afirma que a seqüência de derrotas e maus resultados tem afetado sua vida particular. "Eu gostaria de deixar isso na praia, quando termino meu trabalho, mas infelizmente não consigo. Se saio da água puto depois de perder uma bateria, provavelmente não serei o cara que vai ajudar sua avó a atravessar a rua mais tarde. Preciso de um tempo pra acalmar os ânimos".
Questionado se tem vontade de brigar com Slater pelo título da próxima temporada, ele é taxativo ao dizer que, se estiver em sua melhor forma de novo, pode derrotar o eneacampeão mundial. E surpreende ao dizer que os dois se tornaram bons amigos. "Sei que posso vencê-lo, mas no momento preciso apenas colocar minha cabeça no lugar novamente e me apaixonar pelo surf de novo. A mídia pode manter essa coisa de rivalidade e tudo mais, mas no momento somos apenas bons amigos".
Ao dizer que não sabe se vai disputar o WCT 2009, Andy Irons afirma que sua prioridade será levar uma vida feliz. E se for visto no tour novamente, é porque recuperou totalmente sua veia de competidor. Caso contrário, ele planeja apenas surfer as melhores ondas do mundo ao lado do irmão Bruce e dos amigos Shane Dorian e Dave Rastovich. Por outro lado, se Irons sair do WCT para depois tentar voltar, será que ele encara numa boa um ano inteiro na maratona do WQS? Só o tempo trará essa resposta. Mas não será a primeira vez que um ex-campeão retorna para buscar sua coroa.
"Os títulos que ganhei foram meus objetivos de vida, mas descobri que eram um tipo que felicidade temporária. No ano seguinte tudo começa do zero de novo. Já não sou mais o mesmo competidor ávido por troféus. Esse sentimento te leva à loucura se você ficar nessa vibração por muito tempo. Acreditem no que estou dizendo, ou continuem bolando suas próprias teorias a respeito", encerra Irons.
